Os novos estudos sobre povos e culturas de matrizes não europeias vêm passando por uma revisão crítica radical, deslocando-se do eixo ocidental hegemônico e passando a ser construído a partir da escuta e do entendimento desses povos. Surge, assim, fulgurante este Além da Psicologia Indígena, descortinando a subjetividade e a constituição coletiva dos povos da Mesoamérica desde as suas próprias memórias, territórios e premissas. O livro inaugura uma nova coleção, Teyolía, que busca uma visão radicalmente disruptiva e decolonial para a América Latina.QUARTA-CAPAO “conhecimento discursivo sobre a alma” não é exclusividade da cultura ocidental, muito menos dos tempos atuais. Todas as principais culturas conhecidas têm uma reflexão sobre o humano – o lugar do humano, a relação entre humanos e a relação entre o humano e as coisas. Além da Psicologia Indígena: Concepções Mesoamericanas da Subjetividade, de David Pavón-Cuéllar, é prova disso e também resposta a um desafio: tirar o indígena da posição de objeto de estudo para a de sujeito. Se não é possível – ou desejável – que se abra mão da perspectiva teórica de origem europeia ao abordarmos outras subjetividades, é perfeitamente plausível, ao fazê-lo, abrir mão da sujeição a parâmetros que se querem universais sem que o sejam em benefício da escuta do que há de específico em cada indivíduo, respeitando o saber de sua cultura. Assim, conceitos como horizontalidade, vida, morte, intersubjetividade, variabilidade, materialismo são vistos aqui por um prisma inteiramente novo, contribuindo para que tenhamos uma psicologia mais nossa, deslocada dos valores hegemônicos.COLEÇÃO TEYOLÍAA coleção Teyolía reúne textos de pensadores da Améfrica Ladina implicados com a luta anticolonial, buscando diálogos entre o pensamento crítico latino-americano, os povos originários e afrodiaspóricos. Teyolía é uma entidade anímica nahua que conecta internamente o indivíduo com a comunidade e com o universo.DA CAPAImagem da capa: representação de Kuerajperi, Ilustração de Julian BrzozowskiKuerajperi é a deusa-mãe na cultura P’urhépechas ou tarasca, que se estabeleceu no atual estado mexicano de Michoacán durante o período Pos-clássico mesoamericano. Nota-se a complexidade e a beleza da representação, denotando uma sociedade culturalmente sofisticada. O patrimônio cultural mesoamericano inclui um caudal imenso de tecnologias, conhecimentos e crenças, assim como formas únicas de trabalho, consumo, alimentação, vestimenta, cultivo da terra, interação social, organização comunitária, expressão artística, educação de crianças, tratamento de doenças e administração da justiça. Entre os componentes desse patrimônio cultural estão as concepções da subjetividade às quais dedico o presente livro. Essas concepções se aproximam das ideias psicológicas das culturas modernas europeias ocidentais, mas se diferenciam delas por muitas razões, entre elas, o princípio de não objetificar o subjetivo, não recluí-lo em uma interioridade individual, nem abstraí-lo de todo restante.
Sobre o autor(a)
Pavón-Cuéllar, David
Professor da Universidade Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, Morelia, México. Membro do Sistema Nacional de Investigadores de México. Doutor em Filosofia pela Universidade de Rouen (França) e doutor em Psicologia pela Universidade de Santiago de Compostela, Espanha. Diretor do periódico Teoría y Crítica de la Psicología e editor-associado do periódico Psychotherapy & Politics International. Entre suas últimas publicações destacam-se os livros: Lacan, Discourse, Event: New Psychoanalytical Approaches to Textual Indeterminacy (com Ian Parker. Londres: Routledge, 2014) e Elementos políticos de marxismo lacaniano (México: Paradiso, 2014). |