Fascismo: originalmente, regime de cunho ideológico estabelecido pelo ditador Benito Mussolini na Itália da década de 1920, que valoriza ideais de nação e raça em detrimento dos valores individuais e é representado por um líder autoritário. Mas por que esse termo voltou à ordem do dia em pleno século XXI?À luz de episódios recentes de democracias que enveredaram para regimes mais ou menos totalitários; de líderes democraticamente eleitos que usam retóricas fascistas para fazer política, como Donald Trump; mas também bebendo no extenso histórico do fascismo – de Mein Kampf, de Hitler, aos discursos fratricidas que levaram ao genocídio de Ruanda na década de 1990 –, Jason Stanley analisa a estrutura comum por trás de todas essas experiências. Ele estabelece os dez principais fundamentos do fascismo, entre os quais encontramos: a ideia de reviver um passado mítico e glorioso; o uso de propaganda para distorcer e minar conceitos e instituições democráticas (tendo como pretexto o combate à corrupção); ataques a universidades e intelectuais; uma forte noção de hierarquia; a política da lei e da ordem baseada na ideia de grupos minoritários criminosos; e a valorização do “trabalho duro” em prejuízo de sistemas de bem-estar social.Tais mecanismos apoiam-se uns aos outros simbioticamente, criando e reforçando divisões, ao mesmo tempo em que minam os pilares da democracia – eleições livres, judiciário independente, liberdade de expressão e de imprensa etc. – que poderiam conter a ascensão totalitária. A história nos mostra o imenso perigo de subestimar o poder cumulativo dessas táticas, que deixam a sociedade cada vez mais vulnerável aos apelos da liderança autoritária. Apenas identificando as políticas fascistas, o autor argumenta, poderemos resistir a seus efeitos mais danosos e retornar aos ideais democráticos. 1) Lançado nos Estados Unidos em setembro de 2018, pela prestigiosa editora Random House, é o título mais atualizado sobre as formas contemporâneas do fascismo. 2) O autor, Jason Stanley, é professor de filosofia da Universidade de Yale, e um dos maiores especialistas mundiais em neofascismo. 3) Stanley logra o feito de expor a nu o intrincado funcionamento da ideologia fascista, elencando suas dez características principais. Ele lança mão de episódios ocorridos em todo o mundo, desde o fascismo de Benito Mussolini na Itália da década de 1920, o nazismo de Hitler na Alemanha da década de 1930, chegando às experiências contemporâneas de países que estão tendo suas instituições democráticas minadas por políticas totalitárias, como Estados Unidos, Turquia, Polônia, Hungria e Mianmar. 4) O lançamento coincide com um timing perfeito no cenário brasileiro, com a recente eleição de Jair Bolsonaro à Presidência e, em função disso, o aumento vertiginoso de interesse por trás de “fascismo” (conforme se pode ver na matéria da Revista Piauí de 15 de outubro: https://piaui.folha.uol.com.br/buscas-por-fascismo-batem-recorde-no-google/ ). 5) O leitor brasileiro não deixará de identificar na discussão política atual vários temas abordados pelo autor: a construção, na ideologia fascista, de um passado mítico (como nos setores que pedem a volta da Ditadura Militar); a valorização de um líder totalitário que imita o pai como líder da família, com valorização da força física; o discurso da lei e da ordem, e da perseguição aos criminosos; o anti-intelectualismo, com perseguição a universidades e inclusive disciplinas específicas, como os estudos de gênero; a adoração da ideia de “nação” em detrimento ao conceito de “Estado”; a crescente disseminação de teorias da conspiração e narrativas falsas; a normalização de conceitos e comportamentos que de outra forma seriam considerados inaceitáveis (como a violência contra adversários políticos e a defesa da tortura); uma supostamente necessária perseguição aos comunistas; a manipulação da ansiedade sexual da população contra grupos minoritários como forma a dividir a sociedade. 6) O autor diferencia o discurso nacionalista muitas vezes usado por setores da esquerda do discurso nacionalista de cunho fascista. 7) Usa ideias e cita autores de primeira linha em reflexões interessantíssimas, como Hannah Arendt e seu clássico Origens do totalitarismo, John Stuart Mill e seu conceito de liberdade, entre outros. 8) Não é um livro acadêmico, de ciência política; ao contrário, mostra como discurso e políticas fascistas se imiscuem no dia a dia dos cidadãos comuns. 9) Trata-se de uma obra acessível, que mistura história, filosofia, ciência política, sociologia, psicologia social e teoria crítica da raça para o leitor leigo. Para apreciar a leitura não é preciso ter conhecimento aprofundado em nenhuma dessas áreas. 10) Filho de refugiados judeus da Europa e casado com uma afro-americana (conforme é dito no livro), o autor tem uma história pessoal tocada pelos efeitos nefastos do fascismo; talvez por isso o tema seja tratado de forma tão cheia de empatia e compaixão humanitárias. 11) O título é o número 1 na lista da Amazon americana, na categoria Filosofia política. 12) Ideal para apreciadores de livros como Fascismo: um alerta, Como as democracias morrem e Como a democracia chega ao fim - todos os quais têm frequentado a lista de mais vendidos na categoria não ficção. 13) Direitos vendidos para cerca de 10 territórios/ línguas. 14) O lançamento internacional teve ampla divulgação, tanto nos veículos de língua inglesa quanto no Brasil. Aqui, Folha de S. Paulo, O Globo, Piauí e Época estão entre os veículos que publicaram matérias ou entrevistas com o autor. A seguir, os principais textos/ vídeos:
Sobre o autor(a)
Stanley, Jason
Jason Stanley é professor de filosofia na Universidade de Yale. Lecionou nas universidades de Oxford, de Michigan, Cornell e Rutgers. É autor de vários livros, entre os quais Knowledge and Practical Interests (2005), que ganhou o prêmio da American Philosophical Association, e How Propaganda Works, que ganhou o prêmio PROSE da Association of American Publishers. É colaborador do The New York Times, The Washington Post, The Boston Review, entre outros. |