Esta tradução baseia-se no texto francês da edição clássica publicada pela Sociedade Positivista Internacional em 1914. Discurso Sobre o Espírito Positivo é publicado no início da fase considerada como a maturidade de Comte, que culminaria na admissão cada vez maior de elementos afetivos e subjetivos, levando ao desenvolvimento da Religião da Humanidade, cujas igrejas foram cenário de congregações centrais para, por exemplo, o movimento republicano brasileiro.O próprio filósofo contextualiza sua obra no período de decadência da sociedade teológica, com a substituição do poder sacerdotal pelo científico, numa disputa com o espírito metafísico, representado principalmente pelos economistas liberais.Seu Discurso segue um percurso sintético de apresentação sistemática do positivismo, para então estabelecer o método didático e as condições sociais e morais necessárias para sua implementação e universalização.Ao fundar o positivismo como religião imanente, pretende que este realize justamente a função universal de farol moral da humanidade, orientando seus impulsos afetivos no sentido do altruísmo e do culto aos grandes feitos humanos de toda a história, capaz de unir as sociedades.Uma leitura que contextualize o autor e não se deixe assustar por certos elementos datados em seu pensamento permite compreender a atualidade de Comte, apreciar dimensões de seu positivismo ainda hoje eclipsadas pelo gigantismo de seu próprio vulto, e sua influência inegável sobre o desenvolvimento da sociologia, da qual ocupa o “salão nobre” como fundador. “Auguste Comte propõe-se, neste Discurso, a caracterizar a natureza e o destino do espírito positivo; a avaliar, sob todos os aspectos essenciais, a extrema importância mental, social e moral da vulgarização judiciosa das concepções reais, as únicas capazes de organizar convicções duráveis e unânimes.O pensador, que domina com tanta eminência a evolução filosófica contemporânea, faz aqui a apologia do bom senso universal.” Ordem e Progresso, o subtítulo desta obra, deu origem ao lema presente na bandeira do Brasil. Os ideais da doutrina positivista de Auguste Comte – Amor como princípio, Ordem como base e Progresso como objetivo – inspiraram não apenas a proclamação da República no Brasil, em 1889, como os atos que a ela se sucederam, tais como: a separação entre Igreja e Estado, o estabelecimento do casamento civil, o fim do anonimato na imprensa e a reforma educacional.“Elabora então Comte, pela primeira vez, o mais célebre de todos os seus conceitos, a teoria ou lei dos três estados […]: o teológico, o metafísico e o positivo. […] Comte expõe-lhes a história do espírito humano, como se segue: ‘Pela própria natureza do espírito humano, cada ramo de nossos conhecimentos está necessariamente obrigado, em sua marcha, a passar sucessivamente por três estados teóricos diferentes: o estado teológico ou fictício; o estado metafísico ou abstrato; enfim, o estado científico ou positivo’.” – Revista Cult
Sobre os autores(as)
Comte, Auguste
Auguste Comte foi um filósofo francês, conhecido como o fundador do Positivismo, uma das correntes filosóficas mais representativas do século XX – e que teve grande influência no Brasil –, inaugurada com o objetivo de reorganizar o conhecimento humano. Um mestre do pensamento moderno, Comte manteve estreita relação com as correntes do socialismo utópico e as grandes escolas científicas originadas a partir da Revolução Francesa, tornando-se o grande sistematizador da Sociologia. Sua produção intelectual, fruto de intensa atividade filosófica, desenvolveu-se de 1822 a 1856, ano que antecedeu sua morte. No período de 1830 a 1842, produziu seu Curso de Filosofia positiva, obra que o colocou em destaque entre os pensadores, especialmente na Inglaterra. Posteriormente escreveu as três obras que resumem em si os pontos primordiais de sua doutrina, os opúsculos Discurso sobre o espírito positivo (1844), Discurso sobre o conjunto do positivismo (1848) e Catecismo positivista (1852). No mesmo ano em que produziu o Discurso sobre o espírito positivo, criou a Sociedade Positivista, que agregou diversos adeptos, tendo influenciado o pensamento de teóricos de todo o mundo. |
Solon, Walter
Walter Solon é Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), tendo feito intercâmbios na Universidade de Colônia (Alemanha) e na Sciences Po Paris. Atualmente estuda na Academia de Artes e Mídias de Colônia (Alemanha). |