Quando nascemos, com raras exceções, choramos copiosamente, protestamos contra o frio, a luz forte e a falta de aconchego. Ainda bebês, sem saber falar, sentimos fome e calor, por isso resmungamos, gememosou abrimos o berreiro para ter o peito da mãe. Também esperneamos para arrancar as roupas que tanto nos fazem suar. Os anos passam e agora protestamos contra a comida que os adultos nos fazem comer, e nos insurgimos contra as trapaças de nossos irmãos e irmãs, ou contra a injustiça num jogo de bola na escola. Mais tempo passa e confrontamos nossos pais, pois o que eles planejaram para nossa vida não é o que desejamos para nós mesmos. Acessamos a vida coletiva, começamos a protestar contra coisas que nos ultrapassam, contra o que julgamos errado ou ruim na vida em sociedade. Assim nos revoltamos com o modo como as regras são criadas nos lugares que habitamos. Cresce em nós o desejo e a necessidade de nos organizarmos coletivamente. Já adultos, entendidos e tendo praticado a convivência, podemos encontrar muitos outros que também são críticos das coisas ruins que acontecem no nosso bairro, cidade, país e até no mundo todo. Para isso, nos unimos e protestamos nas ruas, nas janelas dos prédios ou diante da casa do prefeito ou do governador. Dos micro protestos viscerais, passando pelas reclamações da infância e adolescência, até às grandes manifestações sociais, este livrinho apresenta o processo da constituição das lutas como um fluxo contínuo que começa na primeira infância, e mostra que todos nós somos sujeitos políticos desde que nascemos. Leia e lute!Este livro nasceu do encontro da escritora Laura Erber com as ilustrações dos cartazes da Greve dos Professores de 2017, realizados pelo artista Frederico Ravioli. Naquele momento, Ravioli, envolvido com a luta dos professores em defesa da convenção coletiva das escolas particulares e contra a reforma trabalhista, que o então recém empossado presidente Michel Temer havia proposto, produzia as imagens de divulgação dos protestos com desenhos feitos a mão, de maneira simples, direta e abrangentes, pois todos, de diferentes idades e contextos sociais, compreendiam rapidamente as mensagens delas. Assim, Laura entrou em contato com Frederico e propôs a realização de um livro para crianças e adolescentes que teria a característica de pensar imagens e textos relativos às diferentes formas de protesto que exercemos ao longo da vida e enquanto sociedade. Nasceu, então, EU PROTESTO!, apresentado pela primeira vez para a GLAC em julho de 2020.
Sobre os autores(as)
Erber, Laura
Laura Erber é escritora, ensaísta, artista e também professora.Nasceu no Rio de Janeiro em 1979, e hoje vive em Copenhague, naDinamarca. Foi professora do departamento de teoria do teatro da Unirio.Formou-se em Letras, com doutorado em literatura pela PUC-Rio, e foiescritora em residência na Akademie Schloss Solitude de Stuttgart e no PenCenter de Antuérpia. Publicou contos e ensaios em diversas revistas e tempublicados alguns livros de poesia, entre eles Insones (7Letras, 2002) e Oscorpos e os dias (Editora de Cultura, 2008), finalista do Prêmio Jabuti nacategoria Poesia. É autora também de Ghérasim Luca (Eduerj). Em 2012, fez parte da lista dos vinte melhores jovens autores brasileiros da revista Granta.Entre suas obras para o público infantojuvenil destacam-se Nadinha denada (Companhia das Letrinhas, 2016), Haikai: o sapo que nãosabia (Zureta, 2016) e O incrível álbum de Picolina, a pulga viajante (Peirópolis, 2014), os dois últimos em parceria com Maria Cristaldi. |
Ravioli, Frederico
Frederico Ravioli é artista visual e professor. Formado em bacharelado e licenciatura em Artes Visuais pela UNESP, trabalha com infláveis de lona plástica, pintura, escultura e performance, muitas vezes levando suas produções para o interior de manifestações e protestos. É cooperado da Arco Escola Cooperativa, onde leciona desde 2019. |