Jung: vida e obra, escrito pela revolucionária psiquiatra Nise da Silveira e título responsável por introduzir gerações de brasileiras e brasileiros às teorias de C.G. Jung, retorna às livrarias em nova edição. Em 12 de novembro de 1954, Nise da Silveira escreveu uma carta ao psiquiatra C. G. Jung: “Mestre, no centro psiquiátrico do Rio de Janeiro, há, ao lado de outros setores de atividade do serviço de ocupação terapêutica, um ateliê onde os doentes desenham e pintam na mais completa liberdade. [...] E, assim, imagens primordiais emergem nessas pinturas, trazendo uma empírica e convincente demonstração da psicologia analítica.”Graças a esse primeiro contato corajoso se iniciou uma profícua troca intelectual e afetiva entre duas grandes mentes do século XX. Nise da Silveira, médica psiquiatra, foi a principal agente pela difusão da teoria da psicanalista analítica, ou junguiana, no Brasil.C. G. Jung, médico psiquiatra, é considerado ao lado de Sigmund Freud um dos mais importantes teóricos da psicanálise. Apesar de, inicialmente, terem sido colaboradores, Jung desenvolveu sua própria teoria quanto à natureza do inconsciente – afastando-se da psicanálise freudiana. Seus estudos somam mais de cinco décadas de publicações que abordam múltiplas camadas da formação do indivíduo: da família à religiosidade; da libido ao inconsciente coletivo. Jung foi originalmente publicado em 1968, na Coleção Vida e Obra. Aqui, Nise da Silveira apresenta os principais conceitos da psicologia analítica, ao mesmo tempo que narra os mais importantes acontecimentos da vida pessoal de C.G. Jung. Através desse panorama teórico e biográfico, este livro se confirma, mais uma vez, como um clássico imprescindível para o pensamento psicanalítico no Brasil. Nise da Silveira (Maceió/AL, 1905 – Rio de Janeiro/RJ, 1999) foi médica psiquiatra e responsável por uma revolução no tratamento de pessoas em sofrimento mental. Iconoclasta, foi a única mulher a se formar em medicina em uma turma de mais de 150 homens, na Bahia, em 1926. Ao mudar-se para o Rio de Janeiro, na década de 1930, atuou no Hospital Nacional dos Alienados, sendo denunciada e presa, durante dezoito meses, pela ditadura Vargas, por possuir livros marxistas. Apenas em 1944, após o fim do regime varguista, ela retomou ao serviço público, dessa vez, no Hospital Psiquiátrico Engenho de Dentro – hoje, Instituto Municipal Nise da Silveira. Foi a primeira pessoa no Brasil a introduzir a terapia ocupacional baseada nas expressões artísticas individuais, teoria ligada diretamente à psicanálise analítica de C. G. Jung. Apesar de inicialmente ser boicotada pela direção do hospital – que lhe ofereceu o espaço do almoxarifado para sua seção de arteterapia –, conseguiu demonstrar como sua visão terapêutica era – e ainda é – revolucionária, tanto para o entendimento da pisque humana quanto para o tratamento e a inclusão daqueles julgados à margem da “normalidade”. Nise da Silveira foi responsável pela criação, em 1952, do Museu de Imagens do Inconsciente e, em 1955, do Grupo de Estudos de C. G. Jung e da Casa das Palmeiras, fundação voltada ao tratamento de egressos de instituições psiquiátricas. Dentre os diversos prêmios e reconhecimentos que lhe foram concedidos estão a Ordem de Rio Branco, a Medalha Chico Mendes e o título de Heroína da Pátria. Faleceu aos 94 anos, deixando um legado de estudo, luta e amor, e permanecendo como inspiração para todas e todos que desejam viver em um mundo mais justo e inclusivo.
Sobre o autor(a)
Silveira, Nise Da
Nise da Silveira nasceu em Maceió, em 1905. Cursou a Faculdade de Medicina da Bahia, sendo a única mulher de sua turma. No Rio de Janeiro, passou a trabalhar como psiquiatra no Hospital da Praia Vermelha. Foi presa em 1936, na Ditadura Vargas, por pertencer à União Feminina Brasileira. Anistiada em 1944, retornou ao trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional, no bairro do Engenho de Dentro. Opondo-se ao confinamento e às práticas psiquiátricas, como choques elétricos, propôs novas formas de tratamentos. Assim, fundou a Seção de Terapêutica Ocupacional cujas atividades expressivas deram origem ao Museu de Imagens do Inconsciente, hoje o maior acervo do mundo no gênero. Foi pioneira na utilização de animais em terapia. Seu contato com o psiquiatra suíço Carl G. Jung foi responsável pela introdução da psicologia junguiana na América Latina. Criou também a Casa das Palmeiras, uma clínica de reabilitação para egressos de instituições psiquiátricas em regime de externato, a primeira do Brasil. Suas pesquisas e estudos deram origem a exposições, cursos, simpósios, publicações e outras produções intelectuais, recebendo inúmeros prêmios, homenagens e títulos em diferentes áreas do saber. Seu espírito profundamente humanista exerceu forte influência na cultura brasileira como um todo. Seu trabalho antecedeu os movimentos de renovação da psiquiatria, como na Inglaterra (década de 1960), na Itália (década de 1970) e no Brasil (década de 1980). Após sua morte, em 1999, seu arquivo pessoal foi reconhecido como Patrimônio da Humanidade no Programa Memória do Mundo da Unesco. |