SINOPSE Conrad é também nas narrativas curtas um autor excepcional. À construção detalhada das cenas e da paisagem onde ambienta suas histórias, somam-se personagens construídas com profundidade em contextos marcados pela observação crítica apurada. Em sua pena, atmosfera, cenários e personagens confundem-se e amalgamam-se num todo dramaticamente constituído em que aventura, crítica e complexidade tornam sua obra sempre intensamente atual e cativante. QUARTA-CAPA Narrativas Inquietas apresenta seis contos e duas peças, inéditas em língua portuguesa, de Joseph Conrad. Conrad é mais conhecido por seus romances. No Coração das Trevas, Lord Jim, Nostromo, Sob os Olhos do Ocidente, O Agente Secreto figuram entre as obras mais populares da literatura mundial. Porém, ele sempre se dedicou às narrativas curtas, que formam um extraordinário conjunto em sua produção. "Os Idiotas", aliás, que abre a coletânea, foi o primeiro trabalho completo que escreveu e publicou. Nesses textos, encontramos concentrado tudo aquilo que nas obras mais longas encantaria os leitores: a descrição de lugares longínquos habitados por povos dos quais poucos já ouviram falar, a linguagem refinada, a aventura, os anti-heróis. E com ele, quanto mais longe se vai na selva ou no mar, mais fundo se entra na psique humana. Que o leitor não se deixe enganar nem pelo colonialismo nem pelo exotismo, pois ao viajar com Joseph Conrad por um império britânico onde o sol jamais se põe, acabará por reconhecer nos seus retratos uma humanidade complexa que faz do Outro um espelho de si mesma. COLEÇÃO PARALELOS A coleção Paralelos abriga literatura de ficção e contos de evidente qualidade literária. DA CAPA Imagem da capa: Costa de Yorkshire, gravura de William Turner, 1806-1807. Tate Britain. Tempestades, ventos, tornados, a agitação do mar e a pequenez do homem na obra do britânico William Turner dá bem a atmosfera de aventura e profundidade psicológica que encontramos em Conrad. TRECHOS DA APRESENTAÇÃO Alcebiades Diniz Miguel De fato, o estudo das personagens ocupa um espaço considerável nas narrativas breves de Conrad. Alguns de seus contos, aliás, recebem como título o nome de suas personagens centrais – "Karain", "Um Anarquista", "Il Conde" –, deixando ainda mais explícito como, em torno dessa personagem central, toda a narrativa se estrutura. A amplitude também permite um aspecto construtivo bastante apreciado por Conrad em suas narrativas mais longas e que, novamente, contradiz a "filosofia de composição" aplicada aos contos: a ênfase descritiva em lugares. As narrativas de Conrad, nesta coletânea, ocorrem nas mais diversas paragens: nas ilhas dos Mares do Sul; na costa francesa; em Nápoles; na Espanha do final do século XVIII; na América do Sul; em bairros suburbanos de Londres. Essa variedade e pendor descritivo poderiam sugerir que Conrad seria um autor que investiria em perfis de personagens combinados ao exotismo de paisagens, a fim de impulsionar suas tramas, algo que recorda o artificialismo de certo tipo de best-seller contemporâneo, centrado em viagens, paisagens, descobertas e mensagens construtivas, positivas. Contudo, esse não é o caso de Conrad – longe disso. Em primeiro lugar, o perfil psicológico das personagens construído pelo autor é extremamente rico, o que neutraliza estereótipos e clichês. Mesmo sendo um homem de seu tempo, com os preconceitos do período, Conrad ultrapassa o discurso racista em vários pontos, ao construir protagonistas não europeus (e não brancos) fortes e dilacerados. DO LIVRO DE "OS IDIOTAS" A casa estava isolada entre as rochas. Uma pista de lama e pedras conduzia à porta.
Sobre o autor(a)
Conrad, Joseph
Joseph Conrad nasceu em 1867, na Ucrânia. Aos 11 anos, ficou órfão e, aos 21 anos, juntou-se a um navio britânico como aprendiz. Ficou na Marinha por duas décadas, o que permitiu que conhecesse diversos países. Essa experiência serviu de matéria-prima para sua produção literária, além de ter lhe rendido a cidadania britânica em 1886. Em 1894, Conrad havia alcançado a posição de capitão, porém decidiu abandonar o mar para focar na publicação do seu primeiro romance, “A loucura de Almayer” (1895), ao qual ele havia se dedicado por seis longos anos. Ainda quando criança, via o pai traduzir Shakespeare, mas só depois de adulto aprendeu a língua inglesa. E foi nesse idioma que Conrad escreveu sua prolífica obra, que abarca romances, novelas, ensaios e livros de memórias. Entre seus livros mais conhecidos, destacam-se “O coração das trevas” (1899), “Lord Jim” (1900) e “A linha de sombra” (1917). O escritor faleceu em 1924, na Inglaterra. |