Recolhimento, concentração, precipitação. Ou, pelo contrário, exposição, soltura e dispersão. Nestes poemas, como num espasmo, a abertura inquieta desemboca muitas vezes no espanto de quem subitamente para, sabendo que as palavras serão os resíduos, apenas, do quase indizível. É um mundo de quases, que os leitores já terão aprendido a apreciar nas vozes que guiam os personagens de Adriana Lisboa, alheios aos gestos heroicos e afeitos à elaboração vasta, porém breve, da música que soa ao fundo, tanto na prosa como na poesia. Na recusa da expressão brilhante, um discreto fio melancólico avança e faz do poema lugar de espera e escuta: espaço do envelhecimento, não fosse um outro fio de vida que se enlaça àquele, teimando em recordar que, quando bem quisermos, podemos saltar do vagão, aliviando-nos do peso inominável do fim da viagem. Aí, justamente, aportaremos numa espécie de Pasárgada às avessas, lugar onde o rei não é rei, e tampouco sei se terei as mulheres que quero. Paisagem, em suma, incapaz de prometer outra vida, lugar de passagem, percurso que a delicadeza da poesia insiste em propor, mostrando tão só o que existe, em sua face ora sombria, ora insuspeitadamente luminosa. O que resta, restará sem adornos ou circunspeção, só vida gratuita. Não se trata da delicadeza não-me-toques, da afetação de quem mal resvala no mundo. Na poesia de Adriana Lisboa, delicado é o elemento que decantou, após vagar por uma solução em que o desvio e os choques levaram a uma nova e inesperada composição. Mas, ainda aqui, não se fala da delicadeza ostentatória de um cristal definitivo, ou do sólido que podemos ver, apalpar e admirar. Em Parte da paisagem, o que se projeta é o instável e delicado equilíbrio em que corpo e alma, juntos, descobrem-se a ponto de cair.Pedro Meira MonteiroUniversidade de Princeton
Sobre o autor(a)
Lisboa, Adriana
ADRIANA LISBOA nasceu no Rio de Janeiro em 1970. Publicou, entre outros, os romances Sinfonia em branco (Prêmio José Saramago), Azul corvo (um dos livros do ano do jornal inglês The Independent); os contos de O sucesso; livros de poesia como Pequena música (menção honrosa no Prêmio Casa de las Américas); e o ensaio Todo o tempo que existe. É autora de obras infantojuvenis, como Língua de trapos (Prêmio de Autor Revelação da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) e O coração às vezes para de bater (selo Cátedra 10 da Unesco). Seus livros foram traduzidos em mais de vinte países. |
| ISBN | 9788573214413 |
| Autor(a) | Lisboa, Adriana (Autor) |
| Editora | Iluminuras |
| Idioma | Português |
| Edição | 1 |
| Ano de edição | 2014 |
| Páginas | 120 |
| Acabamento | Brochura |
| Dimensões | 21,00 X 14,00 |