O mal dos partidos políticos salta aos olhos. Os partidos políticos faliram e com eles o sistema de representação que os justificava. Os partidos são uma lepra que surgiu nos meios políticos e espalhou-se pela totalidade do pensamento. A solução é suprimi-los — e não cabe pensar que seja impossível. Essa é a proposta de Simone Weil em dois textos basilares nos quais explora as ideias do coletivo, da pessoa e do impessoal.
Em “Partido, cultura, futuro”, Teixeira Coelho extrai as consequências das ideias de Simone Weil para a cultura e para a política cultural e aponta para as possibilidades tecnológicas contemporâneas, e antigas, de pô-las em prática.
O motor e a utopia da democracia foi a representação. “No taxation without representation”, deixou claro a revolução americana: sem representação, nada de taxação — e nada de todo o resto. A Magna Carta, do século 13, continuava ativa no século 18: a democracia representativa deveria tudo mudar.
Hoje, está exangue. Eleições persistem, formalmente livres aqui e ali. Uma vez no poder, porém, os eleitos começam o desmantelamento legal da democracia. Exemplos, por toda parte. O sistema de partidos faliu. As pessoas preocupam-se com eleger o presidente, o governador o prefeito mas quem de fato detém o poder, por décadas intermináveis, são os partidos, que o loteiam, vendem ou alugam a quem der mais. Os partidos, diz Simone Weil, são o mal em estado puro. Os bons sentimentos horrorizam-se: os partidos não são a mola da democracia? O primeiro efeito da opressão bem sucedida é bem esse: leva os oprimidos — os “representados” — a negar a natureza opressiva da dominação. No primeiro de seus dois textos aqui publicados, Simone Weil remove esse complexo. Ela é clara: nada de bom se perde com a supressão dos partidos políticos.
No segundo, “A pessoa e o sagrado”, Weil continua incisiva: sagrada é a pessoa — e para que a pessoa exista e subsista, o coletivo deve dissolver-se. Partido e coletivo são os dois vetores centrais do totalitarismo, de qualquer cor ideológica. Reagindo contra os crimes da URSS e da Alemanha nazista, que via de perto, Simone Weil é de uma audácia e atualidade únicas: afasta as ideias recebidas e faz as águas estagnadas da política voltarem a fluir.
No posfácio, Teixeira Coelho desdobra as consequências, para a cultura, da insistência na ascendência do partido sobre a pessoa, o conceito mais nobre do vocabulário político. E conduz a reflexão rumo ao cenário das novas culturas computacionais. Toda inovação técnica deixa a sociedade no fio da navalha: agora, de um lado está nada menos que o risco existencial; de outro, a chance de mudar tudo. É uma questão de escolha — por enquanto. E de vontade política.
Simone Weil (1909– 1943) foi uma escritora e filósofa francesa. Tornou-se operária para escrever sobre o cotidiano dentro das fábricas, lutou na Guera Civil Espanhola ao lado dos republicanos, assim como em Londres, como parte da Resistência Francesa. Tal experiência lhe custou sérios problemas de saúde, pois não teria admitido se alimentar além da ração diária permitida aos soldados, nos campos de batalha, ou aos civis pelos tickets de racionamento. Com uma rara sensibilidade para ler e interpretar o contexto de sua época, Simone Weil foi alguém que conseguiu antecipar questões que apenas hoje são debatidas e enfrentadas pela academia e pela sociedade. Ao decepcionar-se com os movimentos de esquerda e cessar quase completamente sua militância nesse campo, não abandonará jamais a questão colonial por considerá-la de suma importância. |
Teixeira Coelho fundou a Editora Documentos em 1969 e desde então divide seu tempo entre a arte, a cultura e a literatura, em iguais proporções. Depois de dirigir museus e centros de cultura, e organizar exposições no Brasil e no exterior, coordena hoje um grupo de estudos sobre Culturas e Humanidades Computacionais no Instituto de Estudos Avançados da USP. |
ISBN | 9788573215915 |
Autores | Weil, Simone (Autor) ; Coelho, Teixeira (Tradutor) |
Editora | Iluminuras |
Idioma | Português |
Edição | 1 |
Ano de edição | 2021 |
Páginas | 134 |
Acabamento | Brochura |
Dimensões | 20,50 X 13,50 |
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