TERRÁQUEOS é o segundo romance da autora japonesa Sayaka Murata publicado pela Estação Liberdade, e assim como em QUERIDA KONBINI — romance que já vendeu mais de 1 milhão de exemplares em todo o mundo — Murata questiona e confronta o conceito de normalidade da sociedade atual e nos deixa com uma simples pergunta: até onde você iria para ser você mesmo?A protagonista e narradora de TERRÁQUEOS é Natsuki. Ela poderia passar por uma criança comum, com devaneios infantis, como a crença em dons mágicos, seres extraterrestres e bruxas. Mas, conhecendo sua história, questionamo-nos se esses não são, na verdade, mecanismos de fuga que a menina desenvolveu para lidar com uma sociedade opressora — e, mais especificamente, com traumas desencadeados por abusos de diversas ordens. Seu estranho namoro com o primo Yuu, seus “poderes mágicos” e seu amigo de pelúcia Piyut são as únicas coisas que mantêm Natsuki — em suas próprias palavras — sobrevivendo, já que viver lhe parecia algo muito fora de alcance. “Até quando eu teria de sobreviver? Será que algum dia poderia apenas viver e não sobreviver?”Sentindo-se desajustada, a pré-adolescente vê o mundo, a sociedade, como uma grande Fábrica de Gente, que para ela se assemelha ao “quarto dos bichos-da-seda” da casa de férias de seus avós, no qual se produziam os “bebês de bicho-da-seda”, tal qual os bebês humanos na Fábrica. Para Natsuki, ou você se ajusta e se torna uma peça na engrenagem das coisas, ou é excluído. Apesar de, em seus desatinos, não considerar a si mesma uma terráquea, mas sim uma alienígena, originária do planeta Powapipinpobopia, ela decide tentar se ajustar ao funcionamento da Fábrica.Na vida adulta, porém, esse ajustamento pode ser mais difícil que o planejado por Natsuki, e sua inconformidade social a leva a comportamentos extremos. A partir do retorno à casa de férias e do reencontro com Yuu, a trajetória da protagonista toma contornos inesperados, e até mesmo absurdos. Nesta trama genial e provocante, Sayaka Murata, assim como em Querida konbini — só que desta vez com mais audácia — desafia tabus, colocando em pauta temas como a obrigatoriedade do trabalho, do casamento, do sexo e da reprodução, bem como a noção de família e os papéis de gênero. Uma leitura perturbadora, da qual certamente não saímos de forma plácida.
Sobre o autor(a)
Murata, Sayaka
SAYAKA MURATA nasceu em 1979 em Inzai, na província de Chiba, próxima a Tóquio. Fã de mangás e ficção científica, desde a infância já escrevia histórias. Seu romance de estreia QUERIDA KONBINI (Estação Liberdade, 2018) — que já vendeu mais de 1 milhão de exemplares em todo o mundo — rendeu-lhe o prêmio Akutagawa em 2016. Antes, havia recebido os prêmios Gunzo e Noma, em 2003 e 2009, ambos voltados para novos escritores, e o prêmio Yukio Mishima, em 2013.Os temas abordados por ela costumam se relacionar à não conformidade dentro da sociedade japonesa nas relações de gênero, trabalho e na sexualidade, muitas vezes incorporando aspectos distópicos ou de horror. Seu conto “Um casamento limpo”, sobre um casal que deseja conceber um filho sem fazer sexo, foi publicado na Granta Vol. 13: Traição, também em tradução de Rita Kohl. |