As culturas juvenis não cabem em pesquisas jornalísticas ou em abordagens generalistas. Fluidas e cambiantes, transbordam pelos poros da metrópole, organismo vivo a respirar no retorcer de um caleidoscópio de multivíduos. Não há como apreendê-las nem rotulá-las. Como encerrar em taxonomias socioantropológicas o que é naturalmente vário, fragmentado, policromo? Como fixar em tabelas o que é móvel e fugidio?Neste livro o autor reinvindica “uma espontaneidade metodológica polifônica que vai de encontro a todo rigor formal monológico, a toda e qualquer moral holística pensativa, a toda e qualquer implacável estatística”. Na contramão do discurso científico, “instrumento para obter financiamentos, fazer carreira, falar em nome de”, ele adota a metodologia do “gozo da diferença”.É isso o que lhe permite frequentar interzonas urbanas nas quais estabelece um fluxo comunicacional direto com os sujeitos, jamais objetos. Rave, piercing, techno, tatuagem, bodyscape, cut-up, ciberespaço, fanzine, videoarte — a cultura líquida escorre pelos desvãos da cidade, despercebida entre as grades enferrujadas do método acadêmico centralizado. Em vez de tipologias, o que interessa a Canevacci são “as zonas limítrofes, os espaços vazios, os desafios panoramáticos, os atravessamentos”.O ultrapasse é a ferramenta da afirmação autônoma dos jovens no mundo: na vertigem de uma infinidade de novos signos, a linguagem é levada a territórios ulteriores aos léxicos institucionais; na urgência de trilhar um caminho sem lhe saber o fim, a história é o vórtice do presente. A amnésia, também líquida, não é perda, e sim libertação dos grilhões do passado — inova e movimenta, ao passo que a memória ordena e paralisa. Sem porto de partida ou de chegada, os jovens singram seu itinerário lançando a âncora ao vento. Intermináveis, clandestinos, passageiros.
Sobre o autor(a)
Canevacci, Massimo
Massimo Canevacci é professor de Antropologia na Faculdade de Ciências da Comunicação – Universidade de Roma "La Sapienza". Desde 1984, tem sido regularmente convidado como professor visitante por muitas universidades brasileiras, principalmente as de São Paulo, onde desenvolve pesquisas de Etnografia Urbana. Fetichismos Visuais, Metrópoles Comunicacionais, Movimentos Juvenis, Sincretismos Culturais, Culturas Indígenas, Aldeia e Metrópoles são algumas de suas áreas etnográficas de pesquisas. |